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10/06/2009 O GLOBO
Recessão agora é oficial, mas PIB cai menos que o esperado
Com queda de 0,8% do PIB no primeiro trimestre, país entrou em recessão e voltou a níveis de 2007
Acrise internacional fez o país retroceder dois anos na produção de sua economia. Pelo segundo trimestre consecutivo, o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) ficou negativo, confirmando que o país atravessou uma recessão. O IBGE informou ontem que o PIB recuou 0,8% entre janeiro e março deste ano, frente ao fim do ano passado, acumulando queda de 4,4% desde outubro. Com isso, o Brasil voltou aos patamares de produção do segundo trimestre de 2007, anulando praticamente os ganhos da economia no segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No primeiro trimestre, a economia brasileira produziu R$684,6 bilhões.
A queda do PIB foi mais intensa frente ao início de 2008: 1,8%, no primeiro recuo nessa comparação desde o quarto trimestre de 2001 (ano dos atentados nos EUA e do racionamento de energia) e a maior queda desde o último trimestre de 1998, quando a economia ficou estagnada.
- Foi uma crise absolutamente profunda - resumiu Roberto Olinto, coordenador de Contas Nacionais do IBGE.
Apesar da estatística negativa, o resultado veio bem melhor que o mercado esperava. As previsões estavam entre -2,5% e -3,4% frente ao primeiro trimestre de 2008 e de até -2,5% ante o último trimestre de 2008.
- O resultado veio por cima da média das estimativas em qualquer comparação - afirmou Silvio Sales, economista da Fundação Getulio Vargas (FGV).
A indústria, mais conectada com o mercado externo, foi o setor mais afetado e puxou a economia para baixo, com recuo de 3,1% frente ao fim do ano passado e de 9,3% contra o primeiro trimestre de 2008, o maior desde 1996, início da série histórica do IBGE. Diferentes segmentos bateram o mesmo recorde de baixa: a construção civil recuou 9,8% e a indústria de transformação, 12,6%.
Diante da crise mais forte na indústria e no setor externo, a arrecadação de impostos ficou bem menor que o PIB. A queda foi de 3,3%, reflexo da menor atividade econômica. Como as importações caíram mais que as exportações, o setor externo acabou influenciando positivamente o PIB, o que não ocorria desde 2006. Segundo o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), as exportações vêm sendo sustentadas sobretudo pelas commodities, cujos preços subiram devido à especulação, e não por causa de um aumento na demanda.
Os números ainda não mostram a recuperação que se desenha no país. Segundo analistas, indicadores de indústria, de confiança do consumidor e do empresário, além das medidas de estímulo monetário (queda de juros e aumento do crédito) e fiscais (redução de IPI em diversos setores) já teriam afastado o risco de continuidade da recessão nos próximos trimestres.
- O pior ficou para trás. Devemos ter expansão no segundo trimestre - afirmou Solange Srour, economista do BNY Mellon ARX.
Para fechar o ano estagnada, ou seja, com expansão zero do PIB, a economia brasileira precisa crescer 0,6%, entre abril e dezembro, em relação ao mesmo período de 2008. Pelo lado da demanda, o impacto maior da crise foi nos investimentos. As quedas de 12,6% frente ao último trimestre de 2008 e de 14% contra o início do ano passado foram as maiores desde 1996.
- O investimento ficou pior com a indústria, a construção civil e a importação menor de máquinas - explicou Rebeca Palis, gerente de Contas Trimestrais do IBGE.