29/06/2011 ZH
Mesmo sem o governo apresentar detalhes das mudanças na previdência, base seguiu PiratiniEnquanto a gritaria dominava o parlamento ontem – petistas sob vaias, oposição aplaudida –, o chefe da Casa Civil entrou no gabinete de Tarso Genro logo após as 18h. Os dois se olharam tranquilos. Carlos Pestana vinha acompanhando pela TV o clima tenso na Assembleia desde o início da tarde. Mas sabia que a base aliada havia se enquadrado, foram dois dias trabalhando só para isso.
No início da tarde, às 12h45min, Pestana foi domar o PDT. No quinto andar da Assembleia, recebeu a resistência já tradicional dos deputados Diógenes Basegio e Juliana Brizola.
– Espera aí! Tem servidores que, com a proposta (de reforma da previdência) que o senhor apresenta agora, vão perder mais dinheiro do que com a proposta anterior – contestou Basegio.
– É uma parcela muito pequena. São só 8% (dos servidores)– respondeu Pestana.
A votação precisava ocorrer ontem, o chefe da Casa Civil sabia disso. Se o governo deixasse os aliados pensando mais uma semana, com entidades e opositores pressionando, o risco era grande de darem para trás. E o pacote naufragaria.
O Piratini já havia sofrido um esbarrão do PTB, que se voltara contra a proposta original do governo – de aumentar a alíquota previdenciária de 11% para 16,5% só nas faixas salariais acima de R$ 3.689,46 – em meio à crise na sigla instalada por uma bofetada de Sérgio Moraes em Ronaldo Santini, ambos deputados petebistas.
Fazia uma semana que, nos bastidores, líderes do PTB ameaçavam Pestana: votariam favoráveis apenas se a alíquota caísse para 14,5%. Foi na manhã de segunda que o chefe da Casa Civil transformou a ameaça em solução. Os 14% seriam impostos para todo mundo (com um redutor para os menores salários), o que garantiria um aumento de R$180 milhões na arrecadação e resolveria outro problema.
– Além da pressão do PTB, havia muita gente dizendo que a proposta anterior era inconstitucional porque estabelecia duas alíquotas, de 11% e de 16,5%. O PDT incomodava demais com isso – conta um assessor do alto escalão.
Depois da reunião com o PDT na tarde de ontem, Basegio e Juliana foram voto vencido na bancada pedetista – mesmo de nariz torcido, se comprometeram a apoiar o governo.
A partir daí, a correria para aprovar o projeto era gritante. Na Fazenda, não havia dados suficientes nem para atender jornalistas que pediam detalhes da proposta. Afinal, técnicos da pasta haviam sido deslocados para a Assembleia, orientados a tirar dúvidas de possíveis dissidentes na base aliada. Todas as informações que Pestana passava aos deputados partiam de estudos incompletos elaborados semanas atrás.
O secretário da Fazenda, Odir Tonollier, acompanhava a gritaria no plenário pelo computador, e o chefe da Casa Civil se manteve em frente à TV. Quando Pestana disse ao governador, às 18h, que tudo estava encaminhado, Tarso deixou seu gabinete e foi à Livraria Cultura prestigiar o lançamento do livro do ex-governador Germano Rigotto.
PAULO GERMANO