26/05/2009 CARTA CAPITAL
A oposição entre o pessimismo visionário do economista Nouriel Roubini e o otimismo oficial do ministro da Fazenda, Guido Mantega, deu o tom do seminário "O Brasil e a Crise Econômico", promovido por CartaCapital na sexta-feira 22 em comemoração aos 15 anos da revista.
Também estiveram presentes na mesa Mino Carta, diretor de redação de CartaCapital, o senador Aloizio Mercadante (PT-SP), Luiz Gonzaga Belluzzo, consultor editorial da Editora Confiança e Delfim Netto, colunista de CartaCapital e ex-ministro da Fazenda. Na apresentação, Mino ressaltou os dois objetivos do seminário: além de ouvir Nouriel Roubini e os demais economistas a respeito da crise econômica, todos ali estavam para celebrar o aniversário de CartaCapital.
“Não há razão para otimismo”
Durante pouco mais de meia hora, Nouriel Roubini não deixou suas famigeradas previsões pessimistas de lado. “Enfrentamos uma recessão global que não víamos há décadas”, explicou o Dr. Doom. “Ao contrário do que todos imaginam, está será uma crise que se estenderá por pelos menos 24 meses. E se considerarmos que os primeiros sinais apareceram em dezembro de 2007, a depressão seguirá pelo menos até o fim deste ano, o que com certeza já a qualifica como a mais grave desde 1930”, afirmou.
O professor da Universidade de Nova York fez questão de ressaltar que mesmo essa previsão de 24 meses de crise é muito otimista. “Eu não vejo a recessão acabando pelo menos até o meio do ano que vem, principalmente se olharmos para indicadores como taxa de desemprego, produção industrial, vendas no varejo e no mercado imobiliário”, opinou. “Eles podem até ter apresentado alguma reação positiva nos dois primeiros meses de 2009, mas já voltaram à tendência de piora. Essa melhora momentânea pode ter iludido alguns otimistas, mas não vejo motivos para decretar o fim da crise ou mesmo o fim de sua pior fase.”
Roubini considera que os chamados otimistas não estão olhando os dados da macroeconomia das principais nações do globo. “Eu só digo isto porque analiso dados macro. Não é possível que alguém tenha estas informações sobre a economia mos EUA, na Europa Ocidental e no Japão, que são as economias que importam, e ainda diga que estamos em um bom momento.”
Além disso, o economista-chefe do site RGE Monitor afirmou que mesmo entre os países em desenvolvimento não há motivo para acreditar que a crise será menos séria: “Eu vejo os Tigres Asiáticos em recessão, eu vejo muitos países da América Latina sendo seriamente afetados, muito porque a economia destes países é baseada nas exportações de commodities, que sofreram perdas globais de pelos menos 30% neste período, e a recuperação não será rápida.”
Otimismo oficial
Assistir à apresentação do ministro da Fazenda, Guido Mantega, proporcionou uma perspectiva completamente diferente aos participantes do seminário de CartaCapital. O homem-chave do governo Lula na economia não hesitou em se mostrar totalmente confiante na recuperação da sociedade brasileira. “O que se perdeu com a crise foi a confiança, e eu acho que ela já está sendo recuperada”, explicou Mantega. “Além disso, a recessão concentrada nos países avançados, com perda no PIB, mas a volatilidade do mercado financeiro está menor e é possível que alguns países em desenvolvimento já registrem crescimento econômico no fim de 2009.”
O titular da pasta da Fazenda não negou que a crise atingiu, sim, o País, mas não vê razão para pessimismo. “O Brasil apresentou uma forte desaceleração no último trimestre de 2008 e no primeiro de 2009, mas já há reação desde março, e estou seguro de que o Brasil será um dos endereços escolhidos para receber capital estrangeiro tão logo os mercados se fortaleçam.”
A receita de Mantega para vencer a crise, longe de ser mágica, é baseada no aumento da demanda interna, um fator que já foi determinante para o crescimento econômico que o Brasil conseguiu nos anos pré-crise.