10/10/2018 Jornal do Comércio
Definido o segundo turno da eleição presidencial, entidades que representam diferentes setores da economia avaliam que os dois candidatos mais votados precisam tornar suas propostas mais claras. Há dúvidas, por exemplo, sobre como vão conduzir o ajuste fiscal ou como vão levar à frente a reforma da Previdência, considerada essencial para reduzir os gastos públicos. Algumas dessas entidades pretendem se reunir com Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT), ou com seus assessores econômicos, para entender melhor os detalhes de seus programas de governo. “O diabo agora mora nos detalhes. As agendas dos dois candidatos convergem em temas como retomada do crescimento econômico, ajuste fiscal e investimento em infraestrutura. Mas como é o ajuste fiscal de cada um? Como pretendem retomar o investimento público em infraestrutura com o ajuste em curso? Queremos esclarecer essas dúvidas”, diz Venilton Tadini, presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib). A associação já se reuniu com os vices de Bolsonaro, general Hamilton Mourão, e de Haddad, Manuela D’Ávila, antes do primeiro turno. A ideia agora é marcar um encontro com os próprios candidatos ou mesmo com representantes de ambos para esmiuçar os detalhes de cada proposta. A Abdib é apartidária e não declarou apoio a nenhum deles, mas entregou uma agenda a ambos com sugestões para aumentar o investimento privado em infraestrutura – que atualmente fica em 0,8% do Produto Interno Bruto –, garantia CONJUNTURA Entidades fazem cobrança de candidatos sobre ajustes Dirigentes têm dúvidas de como será conduzida a política fiscal Avanço das reformas tributária e previdenciária é ponto em comum STOCKPHOTO /DIVULGAÇÃO/JC de segurança jurídica nos contratos assinados pela iniciativa privada, agências reguladoras independentes e maior celeridade nas questões ambientais quando se trata de desapropriações. “Países como Colômbia, Peru e México destinam uma parte maior de seu orçamento para infraestrutura do que o Brasil. No ano passado, por exemplo, o investimento público ficou em apenas 0,7% do PIB. Temos a carga tributária mais alta do mundo, então é preciso mudar. É preciso aumentar o investimento privado na infraestrutura, mas também o público”, diz o presidente da Abdib. Para José Velloso, presidente executivo da Abimaq, que reúne empresas do setor de máquinas e bens de capital, falta clareza tanto nas propostas de Haddad quanto nas de Bolsonaro. A prioridade, na opinião de Velloso, é equacionar o desequilíbrio fiscal, o que está ligado a uma reforma da Previdência. Além disso, diz, é necessário implementar uma agenda de competitividade, o que exigiria tanto reforma tributária como abertura comercial, além da redução de juros para os clientes que estão na ponta, empresas e consumidores. “A reforma tributária é outra incógnita. Aumentar ou reduzir alíquota não é reforma. O sistema tributário continuará complexo”, afirma Velloso. Procurada, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) informou que ainda não tem agenda com os candidatos e nem declara apoio a nenhum deles. O presidente da entidade, Paulo Skaf, retornou ao posto, depois de ser derrotado na eleição para o governo de São Paulo pelo MDB. Ainda como candidato, Skaf declarou que apoiaria Bolsonaro caso passasse para o segundo turno. A Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) informou que não vai se manifestar sobre o segundo turno da eleição. A entidade também não comenta as propostas ou planos de governo dos candidatos.